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Escolha de escolas

Escolher uma escola para um filho é um movimento paradoxal uma vez que existe, por um lado, um pensamento racional, com justificativas plausíveis que são pesquisadas e discutidas entre mães e pais, e existe, por outro, uma escolha subjetiva atravessada pela experiência escolar das mães e pais, pela experiência de parentes próximos (tios, avós…) e pela criança / estudante que os pais foram. Quando se trata de um filho, é impossível fazermos escolhas para sua educação, apenas com base nos argumentos lógicos que possuímos ou pesquisamos. Um filho resgata em nós o que há de mais íntimo, nossa criança guardada a sete chaves, nossa experiência vem à tona e atravessa as ações e decisões. É exatamente por isso, que a escolha de escolas seja um tema tão difícil para muitos e tão debatido por todos dentro da nossa sociedade, inclusive por profissionais como pediatras, psicólogos, pedagogos, etc…

Em Belo Horizonte, assim como em várias capitais do país, temos diversas opções de escolas com linhas pedagógicas diferentes e, dentro da mesma linha, práticas também diferentes, afinal uma escola se faz com as pessoas que nela estão: a comunidade escolar “dá a cara da escola”. Como aqui não pretendo debater as linhas pedagógicas, até porque defenderia a do CLIC (escola que trabalho há 20 anos e pela qual escrevo esse texto), deixo a missão de dar um Google e entender mais sobre as linhas convencionais (ditas de excelência), construtivistas sócio interacionistas, waldorf, montessoriana, logosoficas, dentre outras…

O objetivo desse texto é trazer um apontamento de reflexões para que cada pai e mãe possa traçar o seu próprio caminho, dentro dos seus valores, da sua história e das suas possibilidades.

O primeiro convite é para a reflexão de como foi a própria experiência escolar. Há anos no CLIC, fazemos uma reunião ao final da Educação Infantil com esse tema e é muito comum escutarmos o quê as famílias querem ou não querem de uma escola a partir das próprias experiências, portanto pensar na história de cada um é essencial. Assim, a primeira pergunta para servir de eixo de pensamento é: o que eu gostaria que meu filho vivenciasse semelhante à minha vida escolar e o que eu gostaria que ele tivesse uma experiência diferente da minha? (Dica: faça uma lista de pós e contras, pode ajudar).

Se a experiência individual de cada responsável atravessa inevitavelmente essa escolha, paradoxalmente também é preciso pensar na criança como um sujeito separado do adulto. Ou seja, a experiência dessa criança não será como a dos pais – pois ela não é como os pais – a escola atualmente não é a mesma que o adulto estudou e o mundo também não é mais o mesmo. Então, aqui façamos outra reflexão: Quem é a criança para qual estou escolhendo essa escola? Aqui não podemos confundir a ideia de pensar na criança com a ideia do perfil de criança para cada perfil de escola. Esse conceito precisa ser descartado, uma vez que nossa legislação determina que a inclusão seja cumprida em todas as escolas. Se a escola precisa existir para todas as crianças, segundo a lei nacional, não faz sentido esse conceito de perfil de criança para cada escola. Quando escutamos que uma criança não se adaptou ao perfil da escola podem ter acontecido diversos problemas, dentre eles, os pais não concordarem com a política da escola ou a escola ter fracassado na aprendizagem daquela criança – perfil não pode mais ser justificativa.

Esse ponto nos leva a um outro assunto complexo: nenhuma escola é perfeita, falta à educação e falta muito à educação no nosso país! Não é novidade que os repasses para a educação no Brasil são insuficientes, que educação e cultura não são, por excelência atividades lucrativas (se forem vale repensar se é educação e cultura) então não é preciso delongar mais na justificativa que falta investimentos em diversos sentidos. À escola falta por se estruturar em atividades humanas, mas falta ainda mais no Brasil. Portanto, não vai existir uma escola que se encaixará em todos os ideais construídos pelas famílias. Aqui trago um último exercício para ajudar nesse caminho complexo: fazer um quadro comparativo com dois lados, o que é imprescindível e necessário que uma escola tenha e o que é intolerável em uma escola. Assim, nos ajuda a sair do campo das nossas fantasias ideais para chegar no campo da escolha dentro do que é possível.

Por último, é importante marcar visitas nas escolas que te interessam e até nas que não te interessam, uma vez que é mais rápido definir o que eu não se quer do que se quer de fato, e nessa visita leve suas perguntas e pontos a serem observados. Alguns aspectos coloco como sugestão abaixo:

Alimentação, religião, acessibilidade, inclusão, como são trabalhados os conteúdos da BNCC, como são trabalhados conceitos de moral, ética, empatia, diversidade, inteligência sócio emocional, criatividade…

Lembrem-se que a formação, das crianças e adolescentes, nos âmbitos psíquico, ético, afetivo e cognitivo será muito influenciada pelo ambiente escolar.

Por Letícia Fernandes
Diretora do Clic! e coordenadora do Ensino Fundamental