A imagem acima mostra a mão de uma criança da Educação Infantil e a mão de uma criança de sete anos. É notável que a mão da criança da segunda imagem tem uma anatomia mais favorável para segurar um lápis e desenvolver a motricidade fina necessária para a escrita que a mão da primeira imagem. Sabemos que a inserção de um sujeito na linguagem não é um decifrar de códigos, a língua falada é complexa, mutável e tem uma diversidade e uma complementariedade de tom de voz, expressão corporal e facial. Já a linguagem escrita é ainda mais complexa, uma vez que não é um caminho evolutivo natural, temos que acessar diversas áreas do córtex cerebral, a grosso modo, “pegando emprestado” de outras funções neurais para conseguirmos aprender essa capacidade que a humanidade criou. Sendo assim, a alfabetização é um processo complexo e infinito, nos acompanha durante toda a nossa existência. E como ocorre o início da alfabetização no desenvolvimento? Comumente, associamos ler e escrever como um sinal importante de sucesso da criança na escola. Mas não é bem assim. Se comunicar com competência na linguagem escrita vai muito além de decodificar códigos, assim como na oralidade. A criança precisa ter dentro dela a capacidade de construir narrativas com coerência, exercendo uma comunicação eficaz. Para isso, a escola precisa começar o processo alfabetizador possibilitando a brincadeira, a contação de histórias e o faz de conta. Fazer de conta em um enredo complexo, em conjunto com outras crianças, constrói o arcabouço de ferramentas que a criança precisará para colocar uma ideia em uma narrativa e passar para o papel com regras diferentes da língua falada. A alfabetização é um processo interno, de dentro para fora e não de fora para dentro, ideia na qual diversos métodos alfabetizadores se apoiam. Diante de todos esses argumentos, podemos afirmar que a função da escola é possibilitar um ambiente letrado, instrumentalizar as crianças na idade certa – assim como a imagem da anatomia da mão de uma criança, temos outros sinais biológicos da prontidão do corpo em desenvolvimento que precisam ser “lidos” pelo educador – e entender que o tempo de cada criança é individual e precisa ser respeitado. Só assim formaremos leitores e escritores competentes e autônomos. Afinal, a idade com que uma pessoa começou a ler e a escrever, de forma isolada, não diz nada da sua competência no mundo do trabalho nem das relações!
Por Leticia Fernandes