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Porque as crianças têm direito ao Carnaval?

Neste pequeno texto, não temos a pretensão de conseguir abordar a amplitude deste tema, uma vez que, a definição de Carnaval é complexa e a de InfânciaS, ainda mais. Contudo, considerando que a criança é um sujeito social, político, cidadão, não podemos considerar que a maior manifestação cultural e política do Brasil seja simplificada como uma festa da alienação e isso nos autorizar, a “poupar” as crianças desse momento.

“Na verdade, ao longo da história do Brasil, o carnaval foi uma festa altamente politizada. Já na década de 1880, trouxe a campanha abolicionista para as ruas, com as grandes sociedades do Rio de Janeiro desfilando para arrecadar dinheiro para fazer fundos de alforrias. O mesmo aconteceu nos carnavais de 1980, que traziam perspectivas de redemocratização após o ciclo autoritário da ditadura militar.” (Simas, L. A., 2023).

Sabemos que o Carnaval vem, com seus sambas-enredo, afoxés, marchinhas, ijexás, côcos dentre outros incontáveis ritmos da produção cultural do nosso povo, dizer das lutas do Brasil dentro de cada época. O Carnaval dialoga com a contemporaneidade.

Por isso, começamos com essa provocação: como nós, adultos, ousariamos deixar as crianças de fora desse movimento nacional? Que direito nós, adultos, temos de dizer “não, dessa sua história, desse pertencimento identitário, você não vai participar?”.

“O Carnaval inventou o Brasil. […] chega ao Brasil como uma festa europeia trazida pela colonização portuguesa, mas no Brasil adquire características muito populares […]. O carnaval, portanto, vai se africanizando e, consequentemente, se abrasileirando. […] O Brasil possível é o Brasil da diversidade, da solidariedade, é o Brasil da construção da sociabilidade, é o Brasil que contesta um modelo hétero-patriarcal, normativo, branco. E esse Brasil diverso, transgressor, inventor, contestador e plural é o Brasil que se manifesta no Carnaval.” (Simas, L. A. 2023).

A partir da definição que o historiador Simas nos coloca do carnaval e, consequentemente, da formação identitária do Brasil, acreditamos que não existe a possibilidade de não entendermos essa manifestação cultural nacional como um direito de todos, inclusive das crianças. Em Prefácio de um livro² sobre sambas-enredo, Martinho Filho conta como ele e as irmãs tinham um conhecimento da história do Brasil – que dialoga com a história do samba – acima da média quando alunos, e o finaliza com uma dedicatória: “Para que as crianças possam sempre, com samba e leitura, disseminar a boa desconfiança em nossos professores.” (Martinho, 2014).

Como dever de toda a sociedade, temos que garantir os direitos da criança e do adolescente previstos no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Sendo assim, fica explícito pensarmos na segurança e na saúde da meninada para que sua participação nesta imensa festa seja garantida. Avaliar em quais blocos irá, em quais programas, um horário, hidratação e alimentação adequadas, proteção solar, além do tamanho da aglomeração, é essencial para garantirmos todos os direitos. E aí, esse papel é nosso! Nós, adultos, precisamos fazer essa análise para possibilitar a ação da meninada na construção do nosso país, e não para excluirmos parte essencial da nossa população (as crianças) de um posicionamento crítico, que defende a diversidade cultural e identitária, de forma poética e política. Vamos lá?

Em BH, na planilha dos blocos de rua tem marcado o tamanho de cada um e se é adequado para criança! Tá prontinho lá…

“Brasil, meu nego
Deixa eu te contar
A história que a história não conta
O avesso do mesmo lugar
Na luta é que a gente se encontra

Brasil, meu dengo
A Mangueira chegou
Com versos que o livro apagou
Desde 1500
Tem mais invasão do que descobrimento”
(Samba enredo da Mangueira do ano de 2018)

Lista de Blocos da Belotur